Esportes
Como será SAF de R$ 1 bilhão do Santa Cruz e quais os planos de Sport e Náutico
A criação da Lei da SAF (Sociedade Anônima de Futebol), em 2021, chegou com a promessa de revolucionar o futebol brasileiro, oferecendo aos clubes uma alternativa para reestruturar suas finanças e aprimorar sua gestão. Desde então, mais de 60 times aderiram a esse modelo, em busca de superar desafios financeiros e alcançar maior competitividade.
O caso mais recente é o do Santa Cruz, que, neste mês, assinou a proposta vinculante para a venda de 90% das ações do clube.
Em entrevista à ESPN, Bruno Rodrigues, presidente do clube coral, celebrou o acordo e disse que essa era a “única saída” para a equipe tricolor.
“A SAF foi muito bem recebida por nossa torcida, sócios, conselheiros e, ao meu ver, é a única solução para o Santa Cruz. Quando assumimos o clube, há um ano atrás, eu colocava essa questão, destacando que o motivo principal seria fazer a SAF. Nosso débito hoje é muito grande, aproximadamente R$ 300 milhões, e, nos últimos anos, ou até décadas, o clube não gera receita para pagar esses débitos”, afirmou o mandatário.
Os novos investidores, Vinícius Diniz e Márcio Cadar, ambos de Minas Gerais, terão até 15 anos para injetar R$ 1 bilhão no Santa Cruz. Com o objetivo de levar o clube de volta à elite do futebol brasileiro, o presidente garantiu que o investimento será significativo já nesta temporada.
A título de comparação, Ronaldo “Fenômeno”, que firmou contrato para compra da ação da SAF do Cruzeiro no final de 2021, vendeu 90% das ações do clube mineiro ao empresário Pedro Lourenço por R$ 600 milhões. Isso, portanto, evidencia a grandeza da negociação envolvendo o Santa Cruz. Embora o presidente tricolor mantenha algumas informações em sigilo, caso o valor de R$ 1 bilhão fosse distribuído igualmente ao longo dos anos, o clube coral receberia aproximadamente R$ 67 milhões por ano.
“Vai existir um recurso destinado a viabilizar nossa recuperação judicial, bem como para aportes no patrimônio, na melhoria do estádio do Arruda, na construção de um novo centro de treinamento e no fortalecimento do futebol”, explicou Bruno.
“A nossa tratativa é ter uma escala de investimento ano a ano dependendo da série que a gente dispute. Mas o que eu posso garantir é que, na Série D, que vamos jogar agora em 2025, nós estaremos nas maiores folhas de pagamento do campeonato, senão a maior”, concluiu.
Bruno Rodrigues acredita que a SAF pode, de fato, trazer mais profissionalismo ao futebol. Segundo ele, no entanto, o sucesso desse modelo não está apenas em sua implementação.
“Eu, particularmente, sou um grande defensor desse modelo da SAF e acredito que ele vem para profissionalizar o futebol. Eu acho que não existe modelo ideal. O que existe, primeiro, é você acertar no parceiro; isso é o mais importante. Trazer pessoas sérias, comprometidas com o presente e o futuro do clube.
Quem são os novos donos do Santa Cruz?
Vinícius Diniz e Márcio Cadar, conforme a expectativa do Santa Cruz, devem em breve se tornar os novos proprietários da SAF tricolor.
Além de compartilharem a mesma profissão, ambos são mineiros de nascença, No entanto, se posicionarão de maneiras diferentes na SAF do clube pernambucano. Uma vez assinado o acordo, o primeiro será o homem forte no futebol; o segundo, no mercado financeiro.
Vinícius Diniz, matemático de formação e com 20 anos de experiência no mercado imobiliário, fundou a Futbraz, grupo que se tornaria sócio majoritário da SAF do Athletic, de Minas Gerais. O empresário obteve importantes conquistas, como a ascensão do time da Série D para a Série B do Campeonato Brasileiro.
Além disso, Diniz é conhecido por apostar na contratação de reforços midiáticos. Ainda à frente do clube mineiro na época, ele foi o responsável pelas contratações dos atacantes Loco Abreu, ex-Botafogo, Sassá, ex-Cruzeiro e Ricardo Oliveira, com passagens por diversos clubes brasileiros.
Em agosto de 2024, o empresário decidiu vender as ações do Grupo Futbraz, onde era controlador, para novos investidores. A empresa passou a se chamar F&P Gestão Esportiva, liderada por Fábio Mineiro, que assumiu a presidência da SAF do Athletic, e Pierre Fernandes como sócio.
Márcio Cadar, por sua vez, é formado em Administração de Empresas com especialização em Finanças Estruturadas e Mercado de Capitais, e possui 25 anos de experiência no mercado financeiro. No futebol, o mineiro foi conselheiro do Atlético-MG por 12 anos e, agora, ao lado de Vinícius Diniz, assume a SAF do Santa Cruz.
Entenda as situações de Náutico e Sport
O Santa Cruz pode não ser o único time pernambucano a criar uma SAF. Os rivais estaduais Náutico e Sport seguem para o mesmo caminho, mas estão em estágios distintos.
O Náutico já tem uma “carta de intenções” formalizada com o Consórcio Timbu. O presidente Bruno Becker assinou, em dezembro de 2024, uma proposta não vinculante e agora aguarda, até o dia 4 de fevereiro, uma resposta oficial sobre a continuidade das negociações, com a assinatura da proposta vinculante.
Com uma dívida de aproximadamente R$ 250 milhões, Becker reconhece que transformar o clube em SAF é a solução mais viável para as necessidades atuais.
“Nós precisamos equacionar a recuperação judicial do clube e, além disso, ter capacidade de investimento. Não basta só equacionar a dívida; precisa ter capacidade de investimento para que o clube possa alcançar uma Série B, possa se modernizar de uma forma geral e ter capacidade de investimento no centro de treinamento e no estádio”, analisou.
Nessa fase da negociação, por conta de cláusulas de confidencialidade, os valores totais da negociação e os nomes dos investidores que fazem parte do Consórcio seguem em sigilo.
Entre os mais de 60 clubes que aderiram a esse modelo de negócio, Bruno Becker não hesitou em citar um gigante do futebol brasileiro quando questionado sobre qual mais o atraía.
“Não existe um modelo ideal de SAF, existe o modelo ideal de SAF para determinado clube. Eu, particularmente, dos modelos que se tem hoje, o que para mim se mostra como melhor é o do Bahia, porque ele tem um projeto esportivo antes de tudo. Agora é preciso também o clube entender se é possível ter um modelo igual do Bahia, se aquilo se encaixa nas necessidades imediatas de determinado clube ou não”, afirmou o presidente.
Já o Sport deve seguir o mesmo caminho que os “coirmãos”. No entanto, o clube ainda não divulgou publicamente o interesse de investidores. Segundo o presidente Yuri Romão, transformar o clube em SAF é o caminho ideal não apenas para o time rubro-negro, mas para o futebol nordestino de forma geral.
“Eu digo que os clubes do Nordeste, que é uma região com menos recursos financeiros do que o Sul e o Sudeste, precisam ter um parceiro financeiro. E o instrumento da SAF auxiliaria esses clubes grandes, como o Sport e outros tantos que estão aqui no Nordeste, a terem condições de investimento para torná-los tão competitivos quanto são os do Sul e do Sudeste”, ponderou.
O mandatário fez questão de ressaltar a paixão da torcida do Sport e deixou claro que não envolverá patrimônio do clube em possível negociação.
“A gente não tem um modelo pré-concebido. No nosso caso, o estatuto é muito rígido quanto a isso, então não temos venda de ativos nem alienação de ativos físicos em relação a uma possível SAF. O que podemos fazer, obviamente, numa negociação de uma SAF, é partir para a locação dos equipamentos, ou seja, do CT. E a Ilha do Retiro, que estamos reformando, terá que ser alugada por quem vier”, explicou Romão.
“O que eu acho importante dizer é que o Sport é um clube com patrimônio, títulos nacionais, uma torcida gigante e apaixonadíssima. É um clube com uma torcida exigente, que vai ao campo”, concluiu.