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Encanto com Memphis Depay e mais: Breno Bidon repassa ano no Corinthians

Encanto com Memphis Depay e mais: Breno Bidon repassa ano no Corinthians
Publicado em 25/12/2024 às 4:12

“No futebol, tudo acontece muito rápido”. Ao longo da conversa que teve com a ESPN no CT Joaquim Grava, Breno Bidon falou algumas vezes essa frase ao refletir sobre a temporada de 2024 com o Corinthians. A que acabou marcando a estreia do jovem de 19 anos entre os profissionais.

A velocidade que a sucessão de acontecimentos é capaz de atingir no futebol começou a impressioná-lo logo no começo do ano. No dia 25 de janeiro, foi campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Além do título com os companheiros, Bidon celebrou o prêmio de melhor jogador da competição.

Mas a festa não se estendeu muito. Naquela mesma noite, ele ficou sabendo que teria de se apresentar para treinar com o elenco principal já no dia seguinte. “Foi um período em que o time de cima não tinha tantos atletas no elenco, então usaram muitos meninos da base para completar”, contou Bidon. “Então no dia 26 de janeiro eu já estava lá treinando e continuei até chegar aqui.”

Levou um mês e meio para a primeira oportunidade em campo aparecer. A estreia como profissional aconteceu no dia 10 de março, em um empate sem gols com o Água Santa pelo Campeonato Paulista. Era a última rodada da fase de grupos da competição, e o Corinthians já não tinha mais chances de classificação. “Eu entrei no intervalo e, graças a Deus, tudo deu certo”, lembrou o volante, que substituiu o atacante Pedro Henrique naquele jogo.

Quatro dias depois, veio a primeira oportunidade como titular. Isso porque o volante Maycon, que seria titular naquele jogo decisivo contra o São Bernardo pela Copa do Brasil, sentiu uma lesão muscular na coxa direita ainda no aquecimento. Bidon foi o escolhido para assumir essa vaga que surgiu de repente.

“Foi uma emoção muito grande porque a família inteira estava lá. Eles iam me acompanhar mesmo quando eu não jogava, sempre na esperança de me ver. Nesta minha primeira vez como titular, todos se emocionaram. Chegamos em casa muito felizes”, contou.

Logo veio um outro momento inesquecível neste começo de trajetória do jovem volante: a primeira vez na Neo Química Arena. “Nem lembro contra quem foi o jogo. Mas me marcou muito ver a torcida toda apoiando a gente, fiquei todo arrepiado”, afirmou – o jogo em questão foi contra o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro, no dia 28 de abril, com o Corinthians ganhando por 3 a 0.

‘Transição foi boa’

Ainda que os primeiros minutos de ação como profissional tenham se tornado realidade só em 2024, Bidon já acumulava experiências com a equipe principal antes disso. Fazia um tempo que ele vivia a expectativa de ouvir seu nome sendo chamado por quem estivesse no comando do Corinthians.

“Fui relacionado pela primeira vez com o Vitor Pereira (técnico do time em 2022) aos 17 anos. Aí passei a participar de mais treinos dos profissionais para completar o elenco. Depois veio o Vanderlei Luxemburgo (em 2023) e fui outras vezes relacionado. Mas estreia em campo mesmo, só neste ano”, recordou Bidon.

Na primeira vez que foi chamado para treinar com o elenco principal, ainda com Vitor Pereira, uma boa dose de nervosismo tomou conta da cabeça do jovem antes de as atividades começarem. “Mas o pessoal brinca muito, tem aquela resenha, e aí acabei descontraindo um pouco. Esqueci de todo o resto e só treinei”, ponderou Bidon.

“Era um período também em que a gente treinava uma ou duas vezes por semana com o principal e depois voltava para a base. Acredito que essa transição foi boa”, completou.

O que mudou após virar profissional

Ao responder sobre o que mudou na vida depois da estreia entre os profissionais, Bidon refletiu novamente sobre o quanto as coisas acontecem de maneira rápida no futebol. Se antes costumava pegar o metrô para chegar à Neo Química Arena e ver os jogos do Corinthians como torcedor, agora o trajeto ao estádio é feito de ônibus, em meio aos que entram em campo. “É melhor do que estar na arquibancada. Fico menos nervoso”, comentou o volante.

Andar pelas ruas, é claro, também ficou diferente. “A torcida do Corinthians é muito grande, então você é reconhecido em qualquer lugar que vai. Acho legal quando as pessoas chegam para pedir foto, quando elogiam. Às vezes tem cobrança também, mas é normal. Eu gosto desse carinho dos torcedores”, disse.

Ano de altos e baixos

As coisas não foram tão estáveis assim para Bidon na sequência do ano. Após a estreia entre os profissionais, ele seguiu entre os titulares por um tempo enquanto António Oliveira foi o técnico do Corinthians, mas perdeu espaço quando houve uma troca no comando. “Fui para o banco quando o Ramon Díaz chegou e agora ele passou a me usar de novo”, lembrou.

Ao lembrar desta fase, em que precisou dar essa volta por cima, mais uma vez ele ressaltou: tudo acontece muito rápido no futebol.

“A gente nunca sabe como vai ser o dia de amanhã. Tem de aproveitar cada momento e continuar trabalhando para estar preparado quando a oportunidade bater na porta. Foi assim nesse ano. Eu continuei trabalhando o tempo todo até chegar minha oportunidade. Graças a Deus estou conseguindo ajudar a equipe.”

Se o decorrer de 2024 não mostrou tanta estabilidade assim para o jovem volante, para o Corinthians isso aconteceu em uma escala bem maior. O rebaixamento para a Série B foi um risco considerável durante a maior parte do Campeonato Brasileiro. Até que vieram as nove vitórias consecutivas nas últimas rodadas, o que transformou completamente o panorama: de ameaçado pelo descenso, o time acabou se classificando para a Libertadores e garantiu vaga na Copa do Brasil de 2025 – algo que também parecia improvável por muito tempo.

“Foi uma sequência histórica, o Corinthians nunca tinha vencido tantos jogos seguidos no Brasileirão”, celebrou Bidon. “Foi um ano em que passamos muitas emoções. Chegar agora no fim dessa maneira, lá no alto, é muito importante. Esse grupo merece tudo o que está acontecendo.”

Diante de uma evolução tão drástica, que gerou essa sequência de vitórias e mudou completamente os rumos da temporada para o clube, é natural que se desperte a curiosidade sobre o que pode ter servido como um ponto de virada para o elenco.

Bidon não considera que isso tenha existido. “Foi um conjunto de coisas. Nosso grupo estava unido, a gente sabia da nossa qualidade e onde poderíamos chegar. As coisas foram dando certo”, opinou.

Fator Memphis

Ao se contar a história de reação do Corinthians na metade final da temporada, não é possível ignorar as contratações que foram feitas nessa tentativa de subir o nível geral do elenco e evitar o rebaixamento. Gente como o zagueiro André Ramalho e o meio-campista André Carrillo acabaram se mostrando muito importantes para a arrancada. Mas nenhuma novidade causou tanto impacto quanto a chegada do atacante holandês Memphis Depay.

Quando isso aconteceu, Bidon estava treinando com a seleção brasileira sub-20. “Muita gente lá vinha me perguntar se era verdade mesmo que o Memphis tinha sido contratado. E eu respondia que não sabia de nada, que estava na mesma situação que eles”, contou.

“Eu liguei para o pessoal daqui do Corinthians, falei com o Ryan e perguntei se era verdade, se ia acontecer mesmo. E aí já começou a bater aquela emoção de conhecê-lo e vivenciar o dia a dia com ele. É um cara que passa muita experiência para a gente. Vocês podem ver que ele é um líder também. E dentro de campo, nem precisa falar, né?”

Toda a expectativa que se criou ao saber que teria a chance de ser companheiro de Depay acabou sendo correspondida. Bidon não esconde a admiração que tem pelo nível técnico do holandês.

“Era um cara que a gente via na Europa. Veio para cá assim, do nada, e pude jogar ao lado dele. Tudo o que ele faz em campo chama a atenção. As finalizações, os passes, as tabelas. Tudo isso me impressiona”, afirmou.

Quando o assunto é a comunicação, o volante diz que até entende o inglês que Depay fala, mas destaca que o atacante também tem se esforçado bastante para falar português. Enquanto essa dinâmica entre o recém-contratado e o restante do elenco vai se desenvolvendo, alguns episódios engraçados acontecem.

“Teve uma vez que o Memphis falou alguma coisa em português. Aí o Matheus Bidu olhou para o Raniele e falou: ‘Acho que já estou conseguindo entender ele’. Mas era português, né?”, contou Bidon, aos risos.

Conexão com a torcida

Na medida em que o Corinthians foi acumulando vitórias e reagindo na temporada, uma maneira de jogadores e torcida comemorarem os resultados positivos ganhou força e acabou por se tornar uma marca nesta reviravolta do clube em 2024: o “poropopó”.

De acordo com o que Bidon se lembra, essa celebração foi feita no Couto Pereira, em Curitiba, depois da vitória nos pênaltis sobre o Grêmio que decretou a classificação do Corinthians na Copa do Brasil.

“Fomos comemorar em direção à nossa torcida, e ali que começou. O nosso grupo é muito unido. A gente se juntou, e a torcida começou a fazer esse movimento. Fomos no embalo. E depois vieram vários em sequência”, relatou.

“A ligação com a torcida é muito boa. Olha tudo o que fizeram pela gente neste ano, quando estávamos lá embaixo, com muita gente dizendo que o time tinha muita chance de cair. Eles sempre nos apoiaram, lotaram o estádio, bateram recordes. E aí não poderia ser diferente. Essa é só uma forma de agradecer tudo o que eles vêm fazendo pela gente”, completou.

Momento mais difícil

Não é porque o ano terminou em alta para o Corinthians que Bidon não consiga apontar um grande motivo para lamentação na temporada: a eliminação para o Racing na semifinal da CONMEBOL Sul-Americana.

“Foi muito ruim porque sabíamos da qualidade do nosso time, sabíamos que podíamos ser campeões. Mas faz parte do futebol. Ficamos muito tristes porque sempre queremos ser vencedores, mas às vezes não é possível. É normal, também. Ficamos bem chateados, mas logo em seguida trabalhamos bastante e respondemos com as nove vitórias seguidas”, disse.

Referências e futuro

É natural se imaginar que alguém tão jovem, e de carreira ainda tão curta, tenha na ponta da língua uma resposta sobre jogadores que servem de referência para o que se pretende fazer dentro de campo enquanto estiver jogando futebol.

Não é diferente com Bidon. “Vou falar os que me ajudaram aqui no Corinthians: Maycon e Paulinho”, apontou. “E de fora do clube, o De Bruyne”, completou.

Quando o assunto é chegar à seleção brasileira no futuro, a revelação corintiana tenta manter os pés no chão, mas sem rejeitar o sonho: “Acredito que isso é consequência. Tenho que seguir trabalhando e mostrando meu jogo. Quem sabe no futuro não possa ser convocado?”

Enquanto ainda alimenta o sonho de chegar à seleção principal, Bidon se prepara para representar a equipe sub-20 do Brasil. Ele foi um dos 23 convocados pelo técnico Ramon Menezes para a disputa o Sul-Americano da categoria em janeiro, na Venezuela.